A espreita da noite ele observava as estrelas, nelas
encontrava a lembrança daquele lindo olhar e o sorriso que não era mais seu. Os
dias não eram os mesmos, já não era primavera: as plantas não floresciam, o
orvalho não caia pela manhã. A única coisa que ele podia ver era o intenso e
rigoroso frio chegando. Frio este, que trazia solidão consigo e ocupava um
coração cheio de mágoas e tristeza. Coração burro, que por orgulho e desejos
carnais havia deixado sua amada partir. Agora só o restava olhar as estrelas.
Aquele jovem moço, de cabelos castanhos e crespos, era cego
demais para enxergar tudo o que possuía. Tinha uma vida estável, faculdade a
todo o vapor, uma namorada de dar inveja a todos e uma reputação inigualável.
Era invejado por muitos. Amado por poucos. Mas isso não o interessava. Ele
estava apenas na busca pelo prazer, queria que por queria ser o melhor, em
todas as áreas e em todos os planos, independente do que fosse. E foi num
desses acasos, que ele a conheceu, o amor de sua vida. Tornou-a sua namorada,
entretanto, não o sabia que ela seria a dona de seu coração. Para aquele jovem
era apenas mais uma para ficar a exposição.
O amor sempre foi à arma que aquela menina utilizava. Dele
ela retirava forças e coragem. Só ele a fez ficar ao lado do, ainda então, namorado.
Ela o conhecia melhor que todas as pessoas, conseguia ver além das aparências,
além daquela vontade de conquistar o mundo. A linda e insistente menina via
através dos defeitos, enxergava o que seu amado era de fato. Mas, seu coração
já estava cansado. Seu pobre e inocente amor fatigado. A falta do recebimento
de carinhos, as atitudes fofas não correspondidas, só aumentava a certeza que
no coração da agora triste amante: às vezes, a melhor atitude a ser tomada é
partir. Partir para o seu bem e o de seu amado. E por meio desses e outros
motivos ela se foi, sem olhar para trás e sem medo, levando consigo apenas a
tristeza de um amor que não vingou.
Depois do término, o agora solteiro deu pontapé a sua
rotina. “Parar tudo para sofrer um término, para quê?”- pensava ele. E sua vida
continuou no mesmo ritmo, dançando a mesma dança da ambição e anseio por
reconhecimento, riqueza e grandeza. Só que chega uma hora que a música acaba;
mesmo uma sinfonia, que tem por seus aspectos ter uma longa duração, acaba. E
foi o que aconteceu com o jovem. Sua trilha sonora teve fim, e um vazio enorme
atravessou seu peito saudoso.
Era uma noite fria de inverno, aqueles cabelos castanhos
congelavam com o frio e o olhar de seu dono se perdia no céu. Eles contemplavam
a grandiosidade e imensidão que aquele campo estrelado possuía. E recordavam-se
de uma noite parecida com aquela, as estrelas eram das mais variadas e traziam graça
ao céu com seus desenhos e formas. Mas a noite tinha uma diferença notável com
o então cenário atual: ela disponibilizava uma alegria que não estavam nos
astros no céu, aquela energia boa irradiava de um também astro, que antes
estava ao seu lado, segurava sua mão, o olhava e com todo o amor o chamava de
“meu namorado”. Conforme se lembrava o garoto, que pensava ser homem,
inteligente e sagaz nas suas atitudes, notou que não passava de um tolo menino
que por birra e manha deixou escapar a única pessoa que em meio à multidão o
reconheceu, o entendeu e o amou. O amou sem pré-conceitos, sem descriminação. O
amou da forma que se ama alguém verdadeiramente.